Salmos de Chuva de Ouro
Poesia para varar o vento
quarta-feira, 16 de julho de 2008
1
Descampado raro
explode em tons róseos
gênio pessegueiro.
2
Sem folhas, vestida
de gala, seu rosa
devora minha retina.
À ESPERA DA PALAVRA PURA
Bach infiltrou-se em mim.
Absorveu todos os poros.
Frente ao oráculo, ávida de algo
aguardo a palavra pura.
Aguilhão dos sentidos crava-se
na espinha dorsal.
Deixei minha alma quarar na tapeçaria.
Sonatas encantam pensamentos.
Envolta na magia do incenso
busco o nada.
Séptuor me acolhe.
Na clareira, o pó se eleva e me cobre: areal.
EXÓTICAS E TRANSVIADAS IDÉIAS
Moinhos de vento movem-se
pelo sopro divino:
pureza xavante.
Idéias exóticas amontoam-se
em escuros oceanos.
Fremem fogos de artifício
nuances vivas e transviadas.
A noite salga a estrela
que ensaia sorriso em
sibilante boca.
Quero chuva azul,
lânguida e frágil
desenhando serpentinas noturnas.
No tatear do verso
rasgo a palavra:
cai leite de ouro.
DORES DE QUARENTENA
Na mochila demônios esperam
chegar a hora de espalhar dores.
Gritos ecoam pelos arquipélagos
eivados de falésias.
Suplicam cura das dores de quarentena.
Desejos guardam salmos de chuva
até encontrar a estrela da voz
ensaio vivido na infância.
Serão curadas
com folhas de arnica.
ARENQUES
Na caixa de vidro,
arenques perfilam paredes
na sutil transparência das delicadezas.
Silêncio segreda segredos.
Espalmo entre ternura e curiosidade
peixe de tamanho maior que minha mão.
Sensações visguentas incomodam.
No limiar da angustia e do nojo
algo se desfaz .
Comoção explode:
ciranda de arenques dourados.
NUDEZ
Fragrância de absinto
invade nudez ávida e agreste.
Concha se oferece e se abre.
Sorriso nas pupilas.
Suor poreja no corpo quente
cujos latejos ensaiam sinfonia do infinito.
Encontra habitat genuíno:
língua sacia objeto do desejo.
DESERTO
Piscina de alcatrão devora silhuetas
no casual espanto de outros mundos.
A fúria cega e irresistível zomba elegias
personificadas na vingança de deuses.
Valer-se da chave da súplica
seria o trampolim do desassossego.
Estrada onde viajam bicicletas neuróticas
sem rumo, seduzidas pela escuridão.
A medula se desfaz em caligrafias
que expressam presságio de mudanças.
Quebram-se as cadeias do anteparo,
estilhaços de vidro rasgam texturas:
florejam graça e beleza no deserto.
ORÁCULO DOS DEUSES
Panelas, frigideiras, conchas,
facas, facões, tábuas,
sementes, folhas, receitas,
verduras, vegetais, incenso de gengibre.
Talho carnes, misturo temperos
e no frigir do azeite aromas de cebola e alho
espalham-se em todos os ambientes.
Nesta armadilha de fogo,
ossos explodem em calores
a verter flores de alcachofra
criando a aura do paladar.
Canela em pau, manjericão e tomilho
enfeitam o prato final,
banhado em molho agridoce.
ASSOVIOS QUEBRAM SILÊNCIOS
Navego verdes
- águas em pleno convés lúbrico -
feito azeite molhado em neblinas.
Revi céu de búfalo
através de periscópios imaginários.
Neste jardim de camaleões
dançam espelhos,
refletem gigantescas línguas devoradoras
de incautos anzóis sonhadores.
Emerge solene claustro românico
cingindo o espaço agônico.
São águas frias que preenchem o vazio.
Ventou coragem
na alma desalentada.
Assovios quebram silêncios.
Busco aconchego. Meu eu faz invólucro de mim.
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